quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Zakopane

Gostava que todos os meus textos neste blog fossem como este. Não por ter um carácter literário diferente, mas porque nestes próximos minutos, para além de escrever com as palavras também vou falar com o coração. O texto é longo, na base da história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá: quando se gosta de alguma coisa, escreve-se extensamente...
Este fim-de-semana tornou-se mais longo pelo feriado na terça-feira e pela "ponte" bastante prestável na segunda. Estavam então criadas todas as condições para que fizessemos uma viagem mais demorada, para mais longe e, se tivessemos sorte, mais inesquecível. Foi exactamente isso que me aconteceu...
Zakopane é uma vila no sul da Polónia, bem junto aos Tatras (montanhas que separam Polónia da Eslováquia) e atraiu-me desde a primeira imagem que vi na internet. As pessoas que me conhecem sabem que eu sou um pouco emotivo e decidi na altura que queria, perdão... tinha que ir a Zakopane o quanto antes! Mas tudo isso dependeria se conseguisse arranjar sofá para dormir no já nosso CouchSurfing.com! Arranjei, e lá fomos, eu e o sérvio cá das residências, o Darko para esta vila encantada!
Chegámos a Zakopane já de noite! Vou-vos falar neste ponto de uma pessoa que foi essencial para que a nossa estadia tenha sido fantástica. Halina, 33 anos, couchsurfer como nós, agente de turismo foi, a todos os níveis absolutamente incrível. Custa-me imenso pensar o que mais ela poderia ter feito para melhorar ainda mais a nossa viagem. Foi-nos buscar à estação de comboios, levou-nos a casa e entregou-nos a chave, deixou-nos comida no frigorífico da festa de anos da noite anterior, deu-nos mapas da região, assinalou onde deveríamos ir, ensinou-nos ingloriamente a trabalhar com uma lareira, telefonou-nos para saber se estava tudo bem e no fim, ainda nos levou de volta à estação de comboios e nos mostrou a maior prancha de ski da Polónia. Isto foi o que ela fez por nós... agora um pouco sobre a casa. A cabana onde ficámos é totalmente em madeira, tinha uma cozinha recheadíssima, casa-de-banho com banheira (já não me lembrava como eram), sofás (não um, não dois, mas cinco para nós escolhermos os mais bonitos), uma televisão com canais polacos, espanhóis, americanos, ingleses, italianos e russos e finalmente uma vista para as outras casas visinhas de cortar a respiração! O Darko no seu inglês disse e bem o que me ia na mente e ele exprimiu em palavras: "This no couch, this hotel!".
Em Zakopane vimos coisas inexplicáveis, de tão lindas que são... tão bonitas que nem me vou dar ao trabalho de as tentar representar no blog, porque unicamente em Zakopane se pode sentir e ver o que esta vila/cidade tem para nos oferecer. No entanto, posso tentar descrever aquilo que aconteceu e o que muito me fascinou nesta viagem!
No primeiro dia fomos a Morskie Oko, a maior atracção da região! Levantámo-nos bem cedo e vimos, pela primeira vez, a excelência das casas de Zakopane. É uma vila em tudo única, em cada pormenor é especial e a arquitectura das casas foi uma das coisas que mais me motivou e mais me empolga a lá voltar o quanto antes! Practicamente todas as casas são de madeira trabalhada, cada uma com um quintal ao nível do explendor da residência e todas completamente abertas, de tal forma que qualquer pessoa pode apreciar a sua beleza. Por esta altura, a minha cabeça estava em dois mínimos pormenores: na beldade das casas e nas dores insuportáveis que umas meias de lã me estavam a provocar! Eu sabia que andaria bastante naquele dia e se esta vila não fosse Zakopane, muito possivelmente não poderia ter comprado umas meias de algodão, bem no centro da cidade, que me passaram pelo coração antes de me chegarem aos pés!
Apanhamos o autocarro e fomos para o início das montanhas de Tatra. No dia anterior estava bastante preocupado com a possibilidade de eu e o Darko sermos as únicas pessoas a se aventurarem numa visita a Morskie Oko, o que poderia ser suicídio. As pessoas erram, são ingénuas e esse meu pensamento foi algo completamente pateta! Chegámos ao local e até Morskie Oko ultrapassámos e fomos ultrapassados por centenas, não... milhares de pessoas que, como nós, queriam regalar a vista! Foram umas duras três horas, mas tudo compensou quando chegámos ao local, respirámos fundo do esforço físico e olhámos para Morskie Oko (olho do mar) em todo o seu explendor!
Se ao redor de Zakopane há uma constelação de "casinhas de brincar" que sobem o monte, no coração da vila estas parecem multiplicarem-se! O centro parece concentrar-se numa única rua, com bares, cafés, restaurantes, múltiplas lojas de "souvenirs", lojas de desporto, atracções de rua como estátuas vivas, músicos com fantoches, pintores de spray, etc. e ainda um mercado que muito me atraiu pela sua calma e sem dar a grandes sobressaltos e ruideiras tipicamente latinas.
No segundo dia conseguimos a proeza de andar mais que no primeiro! E valeu a pena... aliás, tudo valeu a pena! Uma das muitas coisas que também me fascinou foram os inúmeros coches puxados a cavalos que transportavam os turistas pela vila.
Como todos os locais na Polónia, Zakopane também tem as suas igrejas! Eu confesso que não sou muito dado a visitar igrejas, mas de vez em quando até fico surpreendido com algumas obras de arte nas casas de Deus. Estando nós numa cidade polaca parecia mal não dar-mos uma "espreitadela" às casas sagradas do sítio. Mas Zakopane não é uma vila comum, já disse antes e volto a frizá-lo que me surpreendeu em todos os aspectos e tudo o que idealizei para esta viagem foi cumprido! Visitámos duas igrejas. As duas bem diferentes uma da outra e as duas me "prenderam" a este sítio, irremediavelmente! Vou falar-vos primeiro da segunda, totalmente em madeira, minúscula, entre um jardim-escola e um cemitério! E eu que pensava que um cemitério não poderia ser algo alegre... este cemitério em Zakopane é coberto de flores, com bonecos trabalhados nas campas e num misto de júbilo e descontração fazia-nos esquecer que estavamos num local de luto. Agora a primeira igreja, em Koscielisko, guardava uma grande surpresa para mim! Eu, na minha inocência, pensei que fosse ver mais uma, apenas mais uma das milhares de igrejas polacas que enchem este país de fé. Mas esta não é só mais uma... no sul da Polónia, junto aos Tatras, bem longe das minhas raízes, encontrei isto...

...um pedaço do meu país, tão distante que era como se Zakopane me incentivasse a matar um pouco as saudades de Portugal. E de tão espantado e alegre que fiquei, prometo um dia cá voltar. Família, amigos... se um dia me casar (pobre moça) tem de ser aqui, neste pedaço de Portugal, no paraíso da Polónia!
Saímos do centro de Zakopane e fomos directos às montanhas. A Halina tinha-nos falado de um vale que era digno de se ver, assinalou-nos no mapa e partimos à aventura! O vale chama-se Dolina Koscieliska e esconde cascatas, rios, árvores despidas neste tempo, aves de todo o tipo e, acreditem ou não, veados e ursos, entre as mais vulgares das espécies em Tatra. Subimos, descemos, voltámos a subir, voltámos a descer... sempre rodeados pela natureza e com o vislumbre de um interminável caminho pedestre. Subimos a uma montanha e de lá vimos a paisagem de uma vila que nos acolheu durante 2 dias e 3 noites, em pleno pôr-do-sol e com o vento a convidar-nos a voar!
No fim, olhámos para trás e vimos que tudo foi perfeito, que os sessenta quilómetros que andámos a pé em dois dias foram totalmente proveitosos e o desejo enorme de lá voltar, com mais tempo e de nos saturarmos em tamanha magia!

3 comentários:

Anónimo disse...

Sem palavras ... a maneira como foste descrevendo vem do coração e cativa qualquer um!

Um grande beijo de saudades da madrinha!!!

Anónimo disse...

João adorei a tua viagem...deve ser um lugar encantador...também quero ir a Zakopane. Vou contigo da próxima vez e vais ser o meu guia ;)

Nandita disse...

Para a próxima, avisa-me com tempo ;) junto coroas e meto-me no comboio para ir ter contigo, prometo :)

E agora, concentremo-nos em maravilhas mais geladas! Já viste as previsões para a nossa ida a Estocolmo? Brrrr, pois...

Beijinhoooo, e saudades de vocês todos! Está decidido que temos de nos encontrar uma vez por mês eh eh eh vamos ver o Vasa, não vamos? Sexta quero começar cedinho...
Beijos